quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Você já ouviu falar sobre fibromialgia?

A Fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica que está relacionada com o funcionamento do sistema nervoso central e o mecanismo de supressão da dor. Muitas vezes fica difícil definir se a dor é nos músculos ou nas articulações, pois os pacientes costumam dizer que não há nenhum lugar do corpo que não doa. Junto com a dor, surgem sintomas como fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada, com a sensação de que não dormiu) e outras alterações como problemas de memória e concentração, ansiedade, formigamentos/dormências, depressão, dores de cabeça, tontura e alterações intestinais. Uma característica da pessoa com Fibromialgia é a grande sensibilidade ao toque e à compressão de pontos nos corpos. 
A Fibromialgia é bastante frequente no Brasil e está presente em cerca de 2% a 3% das pessoas. Acomete em 90% dos casos, mulheres entre 35 e 50 anos, porém, existem casos em pessoas mais velhas e também em crianças e adolescentes. A fibromialgia não provoca inflamações nem deformidades físicas, mas pode estar associada a outras doenças reumatológicas, o que pode confundir o diagnóstico.

Como a fibromialgia está relacionada com o tecido fibroso e muscular?

A Fibromialgia pode englobar, entre outros fatores, os vasos sanguíneos e o movimento repetitivo do músculo, assim como os fatores preexistentes, sendo eles: alterações nos órgãos que recebem a serotonina e endorfina. Do mesmo modo que os fatores precipitantes: distúrbios do sono, excitação na neurotransmissão da dor, por meio do Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Somático, a dor e a inatividade sobre o descondicionamento do músculo e à fadiga, aumentando ainda mais a exposição do músculo diante dos microtraumas (lesão de esforço crônico). Os distúrbios do sono e outras condições psicológicas poderiam agravar o microtrauma muscular. Na presença de neurotransmissores, como a serotonina, as fibras tornam-se muito sensíveis a estímulos repetitivos ou nocivos e, consequentemente, transmitem dor a um baixo nível de esforço. Essa síndrome atinge os seguintes tecidos e músculos: 

Tecido fibroso muscular

O tecido muscular é constituído por células alongadas, que possuem filamentos citoplasmáticos de proteínas contráteis em grande quantidade, que são responsáveis pela contração desse tecido, utilizando o ATP (Trifosfato de adenosina) como moeda de troca energética. As células musculares se originam na mesoderme, e sua diferenciação é sucedida pela síntese de proteínas filamentosas, simultaneamente com o alongamento das células. De acordo com suas características funcionais e morfológicas, existem três tipos de tecido muscular.

Músculo estriado esquelético

É formado por células muito longas (30 cm) organizadas em forma de feixes, cilíndricas, multinucleadas, e contendo muitos filamentos, as miofibrilas. A contração dessas células ou fibras é vigorosa e rápida e estão sujeitas ao controle voluntário. Originam-se no embrião pela fusão de células alongadas, os mioblastos. E os inúmeros núcleos celulares se localizam nas periferias das fibras, próximos ao sarcolema, essa localização ajuda a diferenciar o músculo esquelético do músculo cardíaco, ambos possuem estriações transversais, porém no cardíaco os núcleos celulares estão posicionados no centro. 
O conjunto de feixes que organizam as fibras musculares está revestido por uma camada de tecido conjuntivo denominada de epimísio, como no músculo bíceps ou o deltoide. O perimísio é constituído por septos de tecido conjuntivo que se dirigem para o interior do músculo, separando os feixes. Já o endomísio é formado pela lâmina basal da fibra muscular, relacionada a fibras reticulares. Nesse sentido, o tecido conjuntivo tem o papel de manter as fibras musculares unidas, permitindo que a força de contração gerada por cada fibra atue sobre o músculo inteiro. 

Músculo cardíaco

É formado por células ramificadas e alongadas, com aproximadamente 15 mm de diâmetro, são unidas por meio de junções intercelulares complexas, sua contração é involuntária, vigorosa e rítmica. As fibras cardíacas estão cercadas por uma bainha de tecido conjuntivo que equivale ao endomísio do músculo esquelético, onde contém um grande número de capilares sanguíneos. A presença de linhas transversais fortemente coráveis que surgem em intervalos irregulares ao longo da célula é uma característica exclusivamente do músculo cardíaco. 

Músculo liso

O músculo liso é formado pelo agrupamento de células longas consistentes, podendo assim, se afilarem nas extremidades. As células do músculo liso são cobertas por lâmina basal (camada proteica que funciona como um tipo cola que une a camada basal ao tecido conjuntivo) e são mantidas unidas através de uma rede muito delicada de fibras reticulares (formadas pela proteína colágeno do tipo III, ligando o tecido conjuntivo aos tecidos vizinhos). Essas fibras ligam as células musculares lisas umas as outras, de forma que a contração das células se transformem na contração do músculo inteiro. 
As células musculares lisas possuem corpos densos (regiões escuras que possuem função na contração das células musculares), localizando-se principalmente na membrana dessas células, existindo também, no citoplasma.
O músculo liso é capaz de dar uma resposta de regeneração muito eficiente. No momento em que ocorre a lesão, as células musculares lisas entram em mitose (divisão celular que resulta na formação de duas células geneticamente idênticas à célula original) e restauram o tecido que foi destruído. Na reconstituição do tecido muscular liso da parede dos vasos sanguíneos, há também a participação dos pericitos (célula associada com as paredes de vasos sanguíneos pequenos, servindo como suporte para esses vasos), que sofrem o processo de mitose, gerando novas células do tecido muscular liso.

O que causa a fibromialgia e quais são os fatores de risco dessa síndrome?

Não se sabe ao certo quais são as causas e os fatores de risco para a FM, porém, compreende-se que distúrbios estressantes pós-traumáticos, acidentes automobilísticos, lesões repetitivas, doenças como infecções virais, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome da fadiga crônica e predisposição genética podem estar associados com o início da doença. A ansiedade e distúrbios depressivos podem estar associados com a causa da fibromialgia, pois frequentemente estão sendo observados em pacientes com esse tipo de síndrome. Outros os veem como sintomas da doença. 
Além disso, a fibromialgia pode contribuir para o desenvolvimento de fatores de risco cardiovasculares como o sedentarismo, obesidade e doenças advindas da mesma, como dislipidemia, resistência à insulina e hipertensão arterial. No entanto, muitos fatores de risco são modificáveis pela simples mudança no estilo de vida, combatendo e prevenindo as doenças cardiovasculares, além de melhorar os sintomas advindos da fibromialgia como redução da dor nos pontos dolorosos (tender-points), diminuição da rigidez matinal, diminuição da fadiga e redução da ansiedade e depressão. 

Quais as manifestações clínicas?

As manifestações clinicas desta síndrome ocorre de várias formas, exigindo anamnese (entrevista realizada pelo médico) cuidadosa e exames físicos detalhados. O sintoma existente em todos os pacientes é a dor difusa e crônica, envolvendo o esqueleto axial (cabeça, caixa torácica e coluna vertebral) e periférico (braços e pernas). Geralmente, os pacientes têm dificuldade para identificar o local da dor, muitas vezes apontando sítios peri-articulares (região dos tendões, entésios, ligamentos, bainhas tendíneas, tecidos peritendíneos e bolsas serosas), sem detectar se a origem é muscular, óssea ou articular. O caráter da dor é bastante variável, podendo ser queimação, peso ou pontada. É comum o agravamento da dor pelo frio, umidade, mudança climática, tensão emocional ou por esforço físico.
Há também os sintomas centrais que acompanham o quadro doloroso, que é o sono não reparador e a fadiga, que estão presentes na grande maioria dos pacientes com a síndrome. O distúrbio de sono, resulta na ausência de restauração de energia e consequente cansaço, que aparece logo pela manhã. A fadiga pode ser bastante significativa, com sensação de exaustão fácil e dificuldade para realização de tarefas laborais ou domésticas. 
Outro sintoma é a "sensação" de inchaço, particularmente nas mãos, antebraços e trapézios, que não é observada pelo examinador e não está relacionada a qualquer processo inflamatório. Além dessas manifestações músculo-esqueléticas, muitos se queixam de sintomas não relacionados ao aparelho locomotor. Entre esta variedade de queixas, destaca-se cefaleia, tontura, zumbido, dor torácica atípica, palpitação, dor abdominal, constipação, diarreia, dispepsia, tensão pré-menstrual, urgência miccional, dificuldade de concentração e falta de memória. 
Cerca de 30% a 50% dos pacientes possuem depressão. Ansiedade, alteração do humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham cerca de 1/3 destes pacientes, embora o modelo psicopatológico não justifique a presença da fibromialgia.


Como é feito o diagnóstico?

A fibromialgia é uma patologia de difícil reconhecimento por não possuir um exame específico para que possa ser detectada. Seu diagnóstico é feito de forma essencialmente clínica. Os pacientes que sofrem com fibromialgia devem ser encaminhados a um reumatologista (especialista para esse tipo de enfermidade), o qual, durante a consulta, obtém informações essenciais para chegar ao diagnóstico correto. Uma das formas de obter essas informações é observar a sensibilidade em pontos específicos dos músculos, conhecidos como pontos dolorosos, sendo eles:
  • Parte da frente e de trás do pescoço; 
  • Parte de trás dos ombros; 
  • Parte superior do peito; 
  • Cotovelos e joelhos; 
  • Parte superior das nádegas e quadril. 
A Organização Médica de Reumatologia criou alguns critérios para ajudar esse diagnóstico, incluindo dor difusa e pontos dolorosos, já citados. Esses critérios são muito utilizados para realizar pesquisas sobre FM.

Quais os tratamentos para a FM?

Até o presente momento, não foi encontrada a cura para fibromialgia, o que explica que os tratamentos aplicados servem somente para amenizar seus sintomas (fadiga, dificuldades cognitivas, dor generalizada, enxaquecas, entre outros) proporcionando uma melhor qualidade de vida aos portadores da síndrome. A participação ativa do paciente em um tratamento multidisciplinar individualizado para a FM está embasada na combinação das modalidades não farmacológicas e farmacológicas que deve ser elaborado de acordo com as características e intensidades sintomáticas, como a intensidade da dor, nível de comprometimento das atividades e problemas associados. É importante que sejam consideradas também as questões biopsicossociais envolvidas no contexto do adoecimento. Inicialmente, é necessário  educar e informar o paciente e os seus familiares, proporcionando- lhes o máximo de informações sobre a síndrome .
Não existem tratamentos que abordem todos os sintomas, desta forma os  objetivos da terapia farmacológica e não farmacológica devem ser bem definidos, buscando uma possível redução dos sintomas.

TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS 

São diversas as alternativas utilizadas para o tratamento da fibromialgia, dentre elas pode-se destacar o uso de medicamentos. Os mais utilizados são os medicamentos anti-inflamatórios, analgésicos, antidepressivos tricíclicos, inibidores da receptação de serotonina, benzodiazepínicos, medicamentos indutores do sono, miorrelaxantes, uso de infiltrações com anestésicos de uso tópico, anticonvulsivantes, entre outros medicamentos. 
Devido ao grande número de classes medicamentosas utilizadas no tratamento farmacológico, faz-se necessário sempre o acompanhamento médico, para que ele acompanhe a evolução do paciente e evite com isso que o uso indiscriminado dessas classes de medicamentos não prejudique a saúde do paciente. 

Alguns exemplos de medicamentos utilizados para a síndrome: 
  • Analgésicos: Paracetamol, a Codeína ou o Tramadol para aliviar a dor por todo o corpo, característica desta doença; 
  • Relaxantes musculares: o Coltrax, por exemplo, para diminuir a rigidez dos músculos que ficam duros; 
  • Antidepressivos: Amitriptilina, a Fluoxetina ou a Duloxetina para ajudar a tratar a depressão; 
  • Indutores do sono: Zolpidem ou o Midazolam, por exemplo, para ajudar a tratar os distúrbios de sono que costumam ser frequentes na fibromialgia; 
  • Remédios para a ansiedade: Diazepam ou o Lorazepam para ajudar a tratar a ansiedade; 
  • Anti-convulsionantes: Gabapentina, por exemplo, pois podem ajudar a melhorar a dor associada à fibromialgia. 


ALERTA

É importante você saber que a melhor escolha de medicamentos e a dose correta a ser utilizada deve ser feita pelo seu médico. A automedicação pode trazer grandes riscos e deve ser sempre evitada. 

TRATAMENTOS NÃO FARMACOLÓGICOS

Atividades Físicas

Os exercícios são essenciais para o tratamento dessa síndrome, já que as atividades físicas proporcionam um efeito analgésico, além de funcionar como antidepressivo, pois estimula a produção de endorfinas, propiciando uma sensação de bem-estar e de autocontrole.
As atividades mais apropriadas são as aeróbicas, sem carga e sem grandes impactos. A dança, natação e hidroginástica ajudam no relaxamento e no fortalecimento cardiorrespiratório e muscular, diminuindo as dores e auxiliando na qualidade do sono. 
A caminhada, se praticada todos os dias, entre 30 minutos e 1 hora, promove efeitos terapêuticos, mas se for realiza apenas três vezes por semana, já é suficiente.
Vale ressaltar, que em algumas situações a atividade física se torna o único tratamento necessário. Para que o paciente não abandone o tratamento, os exercícios devem ser bem dosados, moderados e intensificados gradativamente, afim de não se tornarem cansativos.


Fisioterapia

A fisioterapia realiza um trabalho considerável no alívio dos sintomas da FM e manutenção das habilidades funcionais do paciente. 
O alongamento muscular, massagem, calor superficial, conscientização corporal, hidroterapia e o relaxamento são alguns dos procedimentos que podem ser adotados para atenuar os sintomas.


Acupuntura

A acupuntura é uma terapia que visa aplicações de estímulos através da pele, com inserção de agulhas em pontos específicos. 
Estudos comprovam que em algumas situações, a acupuntura pode ser um tratamento alternativo e aceitável, proporcionando melhora nos sintomas.
A terapia aplicada em portadores da fibromialgia , atua sobre os neurotransmissores relacionados a dor, sendo assim um método útil e adequado na terapêutica da dor crônica, melhorando a condição clínica do paciente e conseqüentemente sua qualidade de vida. No entanto, a acupuntura não deve ser o único método de tratamento empregado para a fibromialgia, há a necessidade da associação de outras terapias.


Suporte Psicológico

Como essa patologia é de longa duração, os familiares devem auxiliar o tratamento, pois estão diretamente ligados ao paciente e o apoio psicológico é essencial para uma melhor qualidade de vida. 
A abordagem cognitivo-comportamental também é eficiente, se combinada com técnicas de relaxamento, exercícios aeróbicos, alongamentos e educação familiar.



Quais os impactos na qualidade de vida?

O impacto da FM na qualidade de vida é considerado global, envolvendo aspectos pessoais, profissionais, familiares e sociais que, em certos casos, são comparáveis aos causados por outras doenças crônicas também incapacitantes, como a artrite reumatoide. 
Uma questão central para os fibromiálgicos é a dificuldade para a execução de tarefas, sejam profissionais ou não. Os pacientes mostram-se extremamente inseguros quanto ao seu desempenho pessoal, gerando um estado crônico de revolta em relação a sua saúde. 
Outro aspecto sempre relatado nos estudos qualitativos é o impacto negativo na vida social. Indiferença por parte de amigos e familiares, problemas conjugais e diminuição da frequência de atividades de lazer e mesmo religiosas. 
O medo da dor futura é um dos fatores mais citados como influenciadores do bem-estar. Não saber como será o dia seguinte é uma das dúvidas cruciais para os pacientes com fibromialgia. Pacientes com maior medo de dor futura referem maior incapacidade e maior quantidade de emoções negativas, e apresentam maior intensidade de dor e maior número de pontos dolorosos.


Você sabia?

Fibromialgia impede Lady Gaga de participar do Rock in Rio

Recentemente foi divulgado o cancelamento do show, da famosa cantora, Lady Gaga, uma das principais atrações da noite de abertura do Rock in Rio, a justificativa se dá por meio dos sintomas e impactos ocasionados pela fibromialgia na vida da cantora. 
Nas redes sociais, a cantora pediu desculpas aos fãs: “Brasil, eu estou devastada por não estar bem o para ir ao Rock in Rio. Eu faria qualquer coisa por vocês, mas tenho que cuidar do meu corpo agora”.


Fruta noni é utilizada como tratamento paliativo para essa síndrome

Um tratamento considerado um sucesso utiliza a fruta asiática noni como paliativo para aliviar os sintomas da fibromialgia. Porém, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com objetivo de proteger e promover a saúde da população, adverte sobre o consumo dessa fruta, através do Informe Técnico nº 25, de maio de 2017:
“As publicações científicas a respeito do suco de noni tem trazido muitas contradições acerca da sua segurança como alimento. Considerando tratar-se de uma solicitação de registro de um novo alimento sem histórico de consumo no país e que teria consumo livre sem supervisão profissional, a avaliação de sua segurança deve ser baseada em critérios rígidos. É perceptível, ainda, a falta de estudos sistemáticos avaliando o suco de noni em humanos nos países onde o produto é consumido.Desse modo, as evidências científicas avaliadas até o momento não comprovam a segurança dos produtos contendo Morinda citrifolia (Noni), para uso como alimento.”